Entrevista com a professora Maria José dos Santos (Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia)

O PET Ciências Naturais entrevista a professora Dra. Maria José dos Santos. A professora Maria José possui graduação em Licenciatura em Pedagogia Habilitação em Educação de Adultos pela Universidade do Estado da Bahia (1991), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Maranhão (2009) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (2016). Atualmente é professora Adjunta da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: novas tecnologias da informação e da comunicação, mídia, tecnologias digitais, escola e trabalho docente.

 por:Lais Crystina De Moura Vieira

em: 26/10/2017.

PET Ciências Naturais: Como se deu seu processo de formação acadêmica e quais áreas você atua?
– Profa. Maria José:
Sou professora desde 1987, então já tem aí poucos anos na carreira de magistério atuando em todos os níveis do magistério: já ministrei aulas desde a Educação infantil e hoje atuo na universidade. Então eu me tornei professora no processo mesmo. Há uma discussão que é histórica, no sentido da feminização do magistério e que parece, assim, que toda menina pobre anseia ser professora; eu não sei bem dizer se foi isso, mas desde muito nova eu tinha uma afinidade muito grande de ensinar, muito embora, na minha cabeça, tivesse uma série de outras questões como entrar para área de contabilidade, pois havia uma época que eu gostava muito de números e depois me afastei completamente, ou mesmo servir na Marinha. Então eram coisas assim que eu idealizava e sonhava, mas aí o próprio processo da vida, da história, foi me conduzindo a isso. Quando eu fiz o ensino de segundo grau, como era chamado; quando eu fiz o primeiro ano, a escola que estudava tinha uma abertura, ela foi contemplada com uma série de cursos técnicos na época. Atualmente sou professora da área de Fundamentos da Educação no Campus de Bacabal.
Decidi ir para escola de magistério. Depois que eu terminei o magistério a ideia ainda era muito ligada a números, eu queria fazer faculdade de Matemática, mas aí eu perdi o primeiro dia de provas, cheguei atrasada e quando foi no ano seguinte eu perdi a data da matrícula da Universidade, do período de vestibular, e quando eu vim me atentar não tinha mais e só tinha para pedagogia e aí eu fiz o vestibular de pedagogia e passei. Então foi assim, eu fui escolhendo e fui escolhida também por essa área; esses contratempos que aconteceram foi algo que contribuiu, porque depois que eu comecei a atuar eu me encontrei e acredito que era isso que tinha que fazer.

 

– PET Ciências Naturais: A senhora se formou aonde?
– Profa. Maria José:
Eu tenho uma história meio migrante, porque de origem eu sou do Piauí, mas minha família saiu muito sedo para a Bahia, eu tinha 5 anos. Então eu cresci entre Bahia e Pernambuco, naquela região de Petrolina. Então todo o meu ensino fundamental, que antigamente era o primeiro grau eu fiz na Bahia, em sobradinho, mas aí quando eu fui fazer o magistério eu fiz em Petrolina, Pernambuco, era a escola de magistério que tinha na época e quando eu fui fazer a faculdade voltei para Juazeiro. Esse processo inicial de formação se deu assim. Depois quando eu fiz minha primeira especialização eu já fiz em Pernambuco.

– PET Ciências Naturais: E seu mestrado e doutorado?
– Profa. Maria José:
Depois eu passei a morar realmente em Petrolina, comecei a trabalhar na Bahia, numa cidade próxima, Juazeiro, onde eu atuei na rede privada de ensino durante 3 anos e 6 meses no ensino fundamental e depois eu passei no concurso do Estado para Pernambuco aí eu retornei a Pernambuco e fui trabalhar nas escolas do Estado, oficialmente com o primeiro grau menor e depois comecei a atuar em turmas do ensino médio, antigo segundo grau. Como minha área era pedagogia eu atuava em aulas de artes, religião e também comecei a dar aulas de sociologia no ensino médio. Depois fiz um novo concurso no Estado de Pernambuco para a área de pedagogia para atuar em cursos de magistério e passei realmente a dar aulas na minha área que é a de fundamento da Educação. Fui trabalhar em uma escola de magistério atuando dentro das disciplinas próprias para a área da pedagogia. E assim a região lá oferecia a especialização Latu senso, então eu fiz duas, uma na área mesmo de pedagogia e fiz uma outra em psicopedagogia, que nessa última eu não fiz a parte de estágio, então fiquei mesmo só com a parte teórica. Não tinha muito interesse em migrar para trabalhar nesses núcleos de assistência estudantil e aí eu não fiz. Havia um desejo muito grande de fazer um mestrado, mas esbarrava tanto as condições econômicas, quanto da própria região que não oferecia mestrado. Então todas as especializações stricto sensu estavam nos grandes centros: em Recife ou em outra região dos outros Estados. Mas aí em um determinado momento surgiu a oportunidade, que foi construída, por meio de grupos que a gente foi formando mesmo com grupos aleatórios, com alguns colegas que também tinham o interesse semelhante, foi quando surgiu a oportunidade de fazer o mestrado em Educação no Maranhão, que na época foi uma coisa muito assim, mas Maranhão?! Onde fica São Luís?! Porque embora eu fosse do Piauí nunca tinha ido nem em Teresina.
Aceitamos o desafio e entramos com tudo e fiz a inscrição, eu e mais três colegas, e infelizmente só eu fiquei no processo, elas não conseguiram passar em todas as etapas. Mas quando aprovada eu não desisti, porque eu tenho uma prima que mora em São Luís, para mim não era algo tão complicado vir para o maranhão. E assim eu fiz, fiquei todo o meu mestrado na casa do minha prima. Mas nesse meio tempo, nessa discursão toda, quando você termina, eu acho que quase todo mundo que termina o mestrado tem o desejo de atuar na Universidade. Isso é muito característico dos professores e antes mesmo de fazer o mestrado, eu já tinha feito alguns seletivos, já tinha feito concurso, pleiteando uma vaga na Universidade, porque ainda havia algumas universidades que aceitavam só a especialização Lato Sensu. Eu já tinha tentado na Bahia, tinha sido aprovado em alguns, mas nunca tinha sido chamada.
Quando eu estava aqui, no mestrado, já em fase de conclusão da dissertação surgiu o concurso do IFMA, e aí eu fiz e fui aprovada para o IFMA, trabalhei um ano em Santa Inês, com a parte de filosofia, filosofia da Educação, com turmas de ensino médio integral, nas turmas que são características da proposta do IFMA, mas não era bem aquilo que eu queria, o IFMA é também muito parecido com a proposta das escolas que eu já tinha atuado. Quando surgiu esse concurso, que abriu para vários polos, que foi na época desse processo de restruturação, e o REUNI estava abrindo essa possibilidade de trazer as universidades dos centros para os interiores, eu mais uma vez me submeti em mais um processo seletivo. Optei por Bacabal por uma questão de deslocamento, eu estava aqui, minha família em Pernambuco, então os polos que tinham acesso eram Grajaú e São Bernardo, muito distantes para eu ir para casa e voltar. Então no momento a escolha se deu muito por isso. Eu fiz o mestrado em São Luís no período de 2007 a 2009. Em 2010 eu vim para cá e trabalhei até 2013, e me afastei para doutorado. Eu fiz o doutorado na UFRN, na Federal de Rio Grande do Norte. Durante o Período de 2013 até meados de 2016, quando eu retornei já em Dezembro.

 

– PET Ciências Naturais: Gostariamos que você falasse agora sobre a sua linha de pesquisa.
– Profa. Maria José:
A minha linha de pesquisa está no campo das tecnologias da educação, questão das mídias, no mestrado na minha dissertação eu pesquisei algumas escolas de São Luís; terminei trabalhando apenas com uma escola, sobre as tecnologias que estão disponíveis na escola e quais são os usos que esses professores fazem dessas tecnologias. Então o conceito Central é a questão do uso. Por que essa temática me interessou no sentido de investigar? Porque quando eu atuei no magistério, eu coordenei um curso de formação de professores e esse curso era basicamente no início da chegada dos computadores na escola, e toda aquela empolgação da escola. Só que a chegada desses computadores causou certas resistências, no sentido do uso, pois não tínhamos muitas habilidades, não sabíamos lidar com aquilo. Então algumas das questões que surgiram nesse curso serviram para se tornarem o meu objeto de estudo no mestrado em 2007. Já 7 anos depois que esses laboratórios estavam sendo implantados, saber como que esses professores estavam utilizando essas tecnologias, que usos eram feitos, eram esses conceitos centrais que usei, que foi o conceito de uso, tomando como base o Michel Sertor. Porque quando eu comecei a fazer as investigações passou muito a ideia que eu iria produzir um trabalho que ia dizer que os professores não usavam por uma série de coisas, que o MEC não ajudava e etc., essas questões que são comuns no campo da educação, a gente ver mais culpados e aponta mais problemas do que aponta soluções. Então durante as minhas leituras no mestrado, eu li Michel Serto, e ele trabalha com a questão do uso, no sentido de um uso que burla a estratégia do dominante. Então eu fui buscar nessa escola saber até que ponto esses professores faziam uso no sentido de Serto. Por exemplo, o aparelho está aqui, mais eu consegui usar ele em outra função, então estou usando algumas táticas. Foi mais ou menos nessa linha que eu elaborei o meu trabalho de dissertação.
Quando eu comecei a trabalhar aqui, que foi uma outra temática que também me chamou muita atenção, participando dos grupos de estudos, eu participei de um grupo sobre violência escolar. Então esse tema é bastante importante para mim, que me toca muito, e aí eu desenvolvi aqui no campus um projeto de extensão nessa linha. Deixei um pouco de lado a questão da dissertação e desenvolvi um projeto de extensão nessa questão da violência. Por sinal a gente até produziu uma coletânea e estamos esperando esse material até para uma divulgação maior do trabalho que os meninos fizeram nessa época.
E aí a nossa vida vai assim, esse entrelaçamento de uma coisa com a outra, pois uma coisa não exclui diretamente a outra. Quando eu comecei a pensar o projeto de doutorado, eu pensei em trabalhar a questão da violência, mas aí eu resolvi voltar para o tema de meu mestrado, até porque eu tinha publicado esse material, tornado um livro e não tinha sentido deixar isso de lado. Ai eu fiz meu projeto para o Doutorado, onde nesse período o meu foco não era mais o professor, objetivei focar no aluno e uma tecnologia especifica que era a televisão. E o projeto inicial, era exatamente “O jovem se vê por aqui”, que subjetividades são construídas a partir de discursos próprios para jovens, porque o meu objetivo era analisar programas específicos para o público jovem e a partir desses programas tentar entender os discursos que são formados e como esses discursos tem produzido novas subjetividades nesses alunos, mas a pesquisa é algo meio assim, Bourdieu ele já diz “ Não é uma coisa que se faz numa sentada só”. Eu entrei com esse projeto, mas durante o doutorado, na minha primeira inserção no campo de pesquisa, eu elaborei um questionário e fiz uma pesquisa exploratória, até para poder definir melhor o meu projeto, e o resultado me levou para outro caminho. Desconstruí todo o projeto inicial e elaborei uma nova proposta de pesquisa e trabalhei no doutorado com a questão do celular, as sociabilidades digitais. Como e que sentidos esses jovens dão e fazem do celular não só na escola, como em seu cotidiano? Mas prioritariamente na escola. Então o objetivo era esse tentar compreender o sentido que eles dão do uso que fazem do celular e que sociabilidades digitais vão sendo construídas através desses sentidos que eles dão.

– PET Ciências Naturais: Como funciona o curso de licenciatura em Ciências Humanas?
– Profa. Maria José:
Nós estamos aqui desde 2010, quando entramos, tínhamos uma proposta aberta, muito aberta até, que também para nós naquele momento que estávamos iniciando, era uma proposta nova, desafiadora, mas era uma proposta que nos deixava possibilidades, aberturas e nós fomos aprendendo no processo, porque era um curso interdisciplinar, um curso que permitia que a gente produzisse e pensasse diferentes projetos, diferentes atividades dentro do curso. Esse curso passou por uma restruturação, ao mesmo tempo que a proposta inicial abria possibilidades, fechava em outras e foram exatamente essas portas que levaram a esse processo de restruturação do curso que proporcionou e que fizeram com que o curso tivesse um caráter mais disciplinar, como acontece com os cursos de licenciatura. Embora exista o êxito da interdisciplinaridade ele não tem mais aquela flexibilidade.
Nós trabalhamos disciplinas com cargo horarias fixas e elas estão divididas assim: nas disciplinas que são próprias das Ciências Humanas e depois uma habilitação em Sociologia; os três primeiros anos do curso é uma construção dessa visão das Ciências Humanas (História, Geografia e Filosofia).
Já temos algumas discussões dentro da Sociologia que vão ser aprofundados de forma mais especifica. Isso foi algo que no projeto inicial não foi decidido, onde o aluno entrava e só quando chegava no final do terceiro ano ele escolhia uma das áreas, mas o processo de rejeição e restruturação redefiniu as habilitações em cada campus, e no nosso caso, nós ficamos com Sociologia, que não foi fácil e que nesse momento funciona dessa forma.
Nesse primeiro momento ele é generalista, porque ele vai trabalhar todo esse conjunto desses elementos, dessas áreas, e no segundo momento será aprofundado os conhecimentos sobre a Sociologia e toda a investigação que se volta para essa área, principalmente no campo do estágio. Como o curso funciona nessa relação teoria e prática, ela tanto está presente nas disciplinas, por que elas têm um caráter teórico, como na prática. Então o aluno tem o momento de discussão, mas ele precisa problematizá-los indo as escolas, tendo algum contato com esse campo e no primeiro momento tem o estágio no ensino fundamental, e no segundo momento terá um estágio mais especifico no ensino médio na disciplina de Sociologia. Outras questões que também estão ligadas e também fazem parte da construção do curso, são os projetos que estão voltados para a docência como o PIBID, tudo isso com o objetivo de fomentar cada vez mais essa formação e que ela seja uma formação realmente de qualidade.
Que possamos desenvolver um trabalho que mude um pouco essa história de um ensino em Bacabal, nas regiões circo-vizinhas de Bacabal, pois nosso objetivo é formar profissionais qualificados para essas áreas que são carentes no ensino fundamental e médio. Nós sabemos que há uma defasagem muito grande no sistema de ensino, principalmente na rede pública, pois há professores que atuam fora da sua área especifica de formação. Então um dos objetivos desse curso é tentar dar conta, não em sua totalidade, pois seria uma pretensão grande, mas de contribuir de certa forma nessas questões de desvio de funções, formar profissionais que tenham capacidades de atuarem nessas áreas das Ciências Humanas e que eles possam retornar para o campo e nesse campo desenvolver uma atividade.

 

– PET Ciências Naturais: Quais as perspectivas de trabalho para os egressos do curso de ciências humanas?
– Profa. Maria José:
Isso é um problema, mas é um problema que precisamos enfrentar junto aos órgãos superiores da universidade. A educação no nosso país vem passando por reformas que atingem também diretamente essa área da Sociologia, mas a gente consegue visualizar um campo aberto para esses profissionais, nós já temos hoje como produto de nosso trabalho, alunos atuando na universidade, nós temos duas egressas daqui que atuam em universidades, uma na UEMA, campus de Bacabal e outra que atua na universidade no campus de Imperatriz, todas passaram em processo seletivo, já concluíram seus mestrados, como alguns outros que estão em fase de conclusão, de defesa de dissertação e temos alunos fazendo os concursos, embora os editais ainda não contemplem diretamente o curso de Ciências Humanas, mas essa é uma discussão que devemos levar para os órgãos superiores, pois a UFMA precisa se posicionar aos municípios, junto aos próprios Estados, para que quando esses editais saiam eles já venham contemplando esses alunos, porque a nível de campo, os nossos editais já saem contemplando a área, pois não podemos formar um profissional e depois deixá-lo sem atuar. A Pró-reitora cobra uma efetividade nesse sentido, para que se abra e se efetive um diálogo com as secretarias municipais e estaduais para que conheçam esses cursos de Ciências Humanas e que estão formando profissionais que precisam de um campo aberto para trabalhar. Inicialmente, os meninos estão fazendo no sentido de “eu vou fazer e depois vou buscar meus direitos”, mas nós acreditamos que isso vai ser resolvido em médio prazo.

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